sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

um amigo



MEU  AMIGO

Há uma letra de música popular brasileira que diz assim: “gostei de uma criatura sem moral sem compostura sem coração sem pudor” , a outra  em esta diz “ você abusou, tirou partido de mim, abusou”.E meu amigo, sempre que podia , lembra-se dessas canções, não,as cantava, mas recitava os seus versos magoados, e o fazia,naturalmente, cheio de mágoas. Nunca o vi rancoroso,somente a tristeza saltava dos seus olhos lânguidos.

 Nunca falou de ninguém, jamais citou nomes, mas todos nós, seus amigos e colegas de trabalho sabíamos de quem se tratava e vinha-nos à memória algumas palavras que definiam com mais ou menos precisão os seus sentimentos de dor e  de melancolia.Sobretudo de ingratidão.

E eu quedava a matutar sobre a ingratidão.Que coisa má,perversa, triste, dolorosa é a ingratidão.A ingratidão envolve o mais torpe dos procedimentos humanos, pois envolve a traição,  o enganar, o tirar proveito de modo falto,enganoso,  aproveitar-se da própria falta de caráter (HOUAISS).

Considerando – se a paridade com o criminoso  comum, o ingrato supera- o pela falsidade, pelo modo cruel como age, por que assassino retira a vida terrena, mas o ingrato destrói os sentimentos, aniquila irremediavelmente a alma, esta sim, imagem divina que habita nosso corpo. Destrói , não no sentido físico até porque  o espírito é indestrutível,mas submete-o a tortura de tal sorte dolorosa e infamante, que a recuperação jamais poderá ser recuperada.

Além disso,  a ingratidão não investiga , não quer saber de razões, de motivos, ela existe por si mesma. É  só e simplesmente para fazer o mal, destruir, maltratar É o verdadeiro sadismo moral.é Brutus apunhalando o pai pelas costas com um  punhal, enquanto abraça-o,  é  beijo  de Judas, depois de obter de Cristo todas as graças.

Mas ninguém admira o traidor, mesmo os seus “amigos”, pois sabem que mais cedo ou mais tarde também serão traídos, a traição é uma doença sem cura, termina matando o próprio traidor, como ocorreu com Judas. Ama –se a traição, odeia-se o traidor.

O criminoso comum  pode cometer o ato ilícito num momento impensado e até na perda momentânea da consciência.O ingrato, não, para perpetrar o mal , ele  pensa, repensa, estuda, manipula a  sua vítima, estuda todos os ângulo do procedimento da vítima até, qual serpente, dá bote certeiro,infalível,  mortal, definitivo.

Eis o traidor.

Pensa-se, então, na vingança.Mas a vingança contra o traidor significa também cometer uma traição, diz meu amigo. Então diz meu amigo  , e  eu não sou traidor, graças a Deus e a ajuda aos meus pais, eu tenho caráter, consigo superar toda maldade, ele sempre repete com esperança  os olhos  fixos no céu.

Mas , então o moimento supremo da  felicidade do traidor.Ter alguma notícia de ruim fato perverso ocorrido com a sua vítima.Ah! o traidor não se contenta dentro de si próprio, tem que anunciar a sua Vitório, qualquer vitória   tudo vale. E você fica cada dia mais atônito, enlouquecendo.. . perguntando-se : por que? Não há resposta pois ela não existe, os paranóicos não precisam de razão, a razão é a sua mente doentia.

Detalhe importante: o traidor nunca age só.Há pelo menos mais dois colaboradores, também pessoas infelizes,   um , geralmente mulher, chefia, idealiza, insufla, o outro quase sempre é “titia”, um homoafetivo velho e que não se aceita, precisa de maltratar alguém  , não importa quem, atua nas sombras, às escondidas mesmo ido à residência da vítima , lá  enchendo  estômago vazio,. (pois já velho e aposentado, quase na miséria) precisa de comer. Come na casa da vítima à socapa, sob as benesses de sua colaboradora.

A vitória mesmo, como desejada, o esmagamento total do alvo da maldade, quase nunca vem, Deus não permite tanta  perversidade, todavia, qualquer sofrimento impingido é uma vitória para o traidor. É a sua felicidade.  

No mais, Deus  toma conta.E até que a morte desfaça a quadrilha perversa, continuam maquinando as torturas que suas  imaginações esquisofrênicas podem perpetrar.



Amem.



Euripedes  Brito Cunha

13 de fevereiro de 2012

cia






terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Último

É  voz corrente  que as  palavras têm força. Têm sim, e têm porque têm, significado , têm uma razão para sua existência , para seu uso traduzem sentimento, alegria, tristeza, sofrimento, vitoria, derrota, sucesso e insucesso.


A palavra último diz muita coisa. E  nessa linha lembro do filme a última sessão   de cinema, quando um jovem assiste ao derradeiro filme exibido no cinema da pequena cidade do interior antes de partir para a invasão  americana do Vietinã , a  sensação de tristeza, de que alguma coisa está ficando para traz, sepultada na névoa dos tempos para nunca mais voltar.

O último  trem que partiu da estação de Santo Antonio das Queimadas,  cidade histórica que abrigava as forças expedicionárias que iam combater o beato Antonio Conselheiro,  acusado sem qualquer razão de ser monarquista, quando, em verdade era mesmo um devoto, um beato, um crente nas forças do além e combateu até o completo  e  extremamente desumano  extermínio dos seus seguidores.


O último adeus no caminho para deixar o corpo do amigo na chamada morada eterna, mesmo sabendo – se que naquela urna nada mais existe. Nada Somente pó, restos sem valor a serem lançados  de volta ao pó, ao nada.

A última aula de um curso . A despedida dos colegas e dos professores que foram nossos companheiros durante  meses ou durante anos nos nossos cursos  de  formação ou especialização.

O último abraço que é trocado com vizinhos e conhecidos por ocasião da mudança  para uma cidade distante , outro pais, outro Estado.

O último beijo na mulher amada que encontrou um caminho melhor, um amor mais forte, e partiu para a felicidade que não podemos oferecer.

A última poesia escrita pelo poeta.O seu último sofrimento, o derradeiro amor,

O último romance que também foi a última inspiração do escritor. 

O último dia de trabalho e a partida para a aposentadoria nem sempre desejada, depois de dezenas de anos de trabalho a que o empregado se habituara.

A última  passagem pela rua  onde tanto brincamos quando crianças e a passagem pela porta da casinha onde morávamos e de lá saíamos para o jogo de bola na rua ou no terreno baldio ao lado.


O último, a última vez, a saudade,  o último beijo e... nada mais...